A capacidade de modificar a vida do outro – para o bem ou para o mal – é um dos fios condutores de “Uma intervenção”. Com texto do autor inglês Mike Bartlett, o espetáculo oferece um olhar aguçado sobre a complexidade das relações interpessoais, um tema intrínseco à humanidade. A estreia é dia 17 de janeiro, no Teatro Ipanema, onde cumpre temporada até 1º de março. Há sessões quintas e sextas, sempre às 20h.
Com direção de Clarissa Freire, a montagem acompanha uma conversa entre dois amigos. Apesar do afeto que os une, eles possuem opiniões sensivelmente distintas, o que fica latente quando começam a discutir sobre uma certa intervenção. A natureza do conflito aqui é propositalmente embaçada, concedendo ao espectador a chance de imaginá-la a partir de sua própria vivência. O fato é que um deles é contra a tal intervenção. O outro é a favor.
Numa desconstrução progressiva, a conversa parte do que orbita a relação dos amigos para chegar ao mais íntimo deles. Não sem dor, eles descobrem que há muitas maneiras de interferir na vida de alguém. Discordar passa a ser motivo de não aceitação. Qualquer semelhança com o recente momento da política brasileira, quando a polarização tomou de assalto relações de todos os tipos, é encarada pela equipe como uma oportunidade de reflexão.
“Me interessa muito representar essa não aceitação do outro. Em que momento a diferença se torna motivo para excluir alguém, odiar alguém. Todo mundo quer falar de si, mas ninguém está se ouvindo. Como ator, é importante debater esse assunto, ainda mais no momento em que vivemos no país. Acho importante também pensarmos a diferença como potência, não apenas como rejeição”, ressalta o ator Gabriel Sanches. No palco, ele vive o amigo que é contra a intervenção. Seu interlocutor é interpretado por Pedro Yudi.
Como lidar com as diferenças e seguir juntos? Nesse desdobramento, discute-se o direito à autonomia, a importância da escuta, o impacto de opiniões divergentes na vida do outro e a possibilidade de o diálogo ser matéria-prima de salvação. Para além das rupturas irreconciliáveis, o espetáculo dedica atenção aos pontos de contato. É a partir deles que se pode vislumbrar a reconstrução do que aparentemente foi destruído.
Teatro Ipanema
Rua Prudente de Moraes, 824
Ipanema
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Beatriz Da Motta Araujo –
Muito bom
Beatriz Da Motta Araujo –
Muito bom. Vou esperar para assistir.