Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, recebe temporada do espetáculo “De Coisas que Aprendi com Elis”, com a cantora Isabela Morais, de 21 a 30 de junho
Em cartaz de sexta a domingo nos últimos dois fins de semana de junho, produção reverencia a carreira da Pimentinha com grande qualidade musical e roteiro afetivo na voz da cantora mineira
O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, recebe de 21 a 30 de junho (sexta a domingo) o espetáculo “De Coisas que Aprendi com Elis”. No show, a cantora Isabela Morais revisita o repertório de Elis Regina num olhar apaixonado sobre o legado da artista gaúcha, tida como a maior intérprete da música popular brasileira. Com cenário inspirado no álbum “Elis, essa mulher”, a produção mineira passeia pela própria história da música brasileira a partir de um recorte afetivo sobre o repertório consagrado pela Pimentinha, incluindo clássicos como “Águas de Março”, “Como Nossos Pais” e “Romaria” e igualmente um mergulho no lado B, com músicas como “Rancho da Goiabada” e “Cobra Criada”. Os ingressos custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada), à venda na bilheteria do teatro e pelo site Ingresso Rápido.
“De coisas que aprendi com Elis” transita entre diferentes fases de uma das maiores intérpretes do mundo, homenageando um cancioneiro que parece sempre dialogar com realidade social do país – desfilam no repertório temas de Tom Jobim, Chico Buarque, João Bosco, Ivan Lins, Belchior, dentre outros. À frente da desafiadora tarefa está Isabela Morais, cantora de interpretação autêntica, expressiva e apaixonada, com trajetória em projetos da MPB (a exemplo da turnê do disco “E a gente sonhando”, com Milton Nascimento) ao rock – como o Ummagumma The Brazilian Pink Floyd, tributo que arrasta multidões há mais de 15 anos. A produção mineira de Três Pontas, celeiro de artistas, traz instrumentistas de destaque na cena musical contemporânea da região: Bruno Vieira (bateria), Clayton Prósperi (piano e arranjos), Dedê Bonitto (baixo) e Ismael Tiso (guitarra).
Elis e o Teatro João Caetano
A capital carioca é algo essencial para compreender a carreira de Elis Regina, forjando sua transição do universo radiofônico para o samba-jazz em espaços como o Beco das Garrafas nos anos 60. Ao longo da carreira, a gaúcha manteve íntima relação com a cidade, através de gravadoras, shows e artistas. Foi exatamente ao sair do João Caetano que ela se deparou, após um ensaio, com dois jovens a aguardando nas escadarias do teatro: João Bosco e Aldir Blanc. A música apresentada por eles ali mesmo, “Bala com Bala”, passou a integrar o disco “Elis”, gravado em 1972. Foi também no Teatro João Caetano sua última temporada, com o show “Trem Azul”, em 1981, pouco antes de falecer aos 36 anos de idade, em janeiro de 1982.
Para a intérprete de 31 anos, “entender a trajetória da canção popular brasileira é necessariamente passar pelo Rio de Janeiro, suas nuances, contradições e maravilhas”, afirma a artista e socióloga de formação. “Estar aqui enquanto intérprete num teatro de referência como João Caetano, onde a própria Elis esteve em momentos chave da carreira, é uma realização profissional e afetiva.”
Aprendizado e roteiro afetivo
O ponto de partida para construir o espetáculo foi o aprendizado da própria cantora mineira com a entrega, técnica e profissionalismo de Elis diante da arte. “Elis Regina foi sem dúvida a minha principal referência. Comecei a ouvir desde muito nova, por influência de minha mãe. Senti forte a vontade de contar o que aprendi com ela, com a força que ela sempre teve pra mim”, conta Isabela. A produção também tem como pressuposto que há sempre muito o que se aprender com Elis, convidando o público para tal. “Transportar seu repertório para agora, mais de 30 anos depois de sua morte, evidencia sua genialidade à época e mostra como o cancioneiro brasileiro é capaz de nos traduzir de forma impressionante. É aprender com a potência de uma obra que atravessa o tempo”, afirma Isabela Morais.
Para a cantora, Elis conseguiu algo fantástico, que foi dar a sua cara para canções de compositores que estavam surgindo na cena. “A seu modo, fez uma leitura crítica de mundo que reverberava em seus shows e nas doses de ironia de suas interpretações.” Esse olhar tanto biográfico quanto pessoal sobre esse aprendizado compõe um roteiro afetivo que costura toda a apresentação, dialogando com uma performance potente e verdadeira no palco, sem que isso se converta em reprodução da figura artística da homenageada. “Trago na minha interpretação bastante força e personalidade, remetendo à performance de Elis, mas sempre respeitando sua autenticidade, apresentando meu aprendizado e a natural influência dela no meu modo de transmitir uma canção.”
Montagem e repertório
“De Coisas que Aprendi com Elis” estrou em formato de grande produção em julho de 2018 em Belo Horizonte, no prestigiado Cine Theatro Brasil. Sensibilidade e preocupação com a qualidade artística perpassam toda a construção do espetáculo, seja na excelência instrumental ou iluminação. O cenário do trabalho, assinado por Cezar Renzi, tem como referência o álbum “Elis, essa mulher” (1979), que trouxe composições como “O Bêbado e a Equilibrista” (João Bosco e Aldir Blanc) e “Bolero de Satã” (Guinga e Paulo César Pinheiro), ambas presentes no show. O espetáculo, no entanto, abrange diversas fases da artista, diante da impossibilidade de esgotar suas múltiplas nuances, mas sempre expondo o caminho percorrido por Elis de revelar novos compositores (como Renato Teixeira) ao mesmo tempo em que revisitava temas do passado (como “Na Batucada da Vida”, de Ary Barroso) e de artistas contemporâneos a ela, como Rita Lee e Milton Nascimento – que conta no show com performances de “Conversando no Bar” e “Caxangá”.
Permeado por falas de Isabela Morais sobre artistas recorrentemente gravados por Elis, como Chico Buarque e Tom Jobim, o show preserva os arranjos e mesmo a interpretação personalíssima trazida em gravações como “Construção” e “Canto de Ossanha”. Por outro lado, traz frescor em performances próprias do grupo para temas como “Arrastão”. A poesia e a palavra evocada, viés valorizado por Isabela Morais em suas apresentações, também aparece com a leitura de texto escrito por Fernando Faro sobre Elis Regina, presente na contracapa de “Trem Azul” (1982). “Um rascunho / uma forma nebulosa feita de luz e sombra como uma estrela / Agora eu sou uma estrela.”
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vida91luciana –
A cantora e a a banda são espetaculares! Super recomendo, uma bela viagem no túnel do tempo.