Escrita por Herton Gustavo Gratto e dirigida por Marcéu Pierrotti, ‘Moléstia’ – que se utiliza de recursos da linguagem cinematográfica – reestreia dia 12 de abril no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, e trará especialistas sobre o tema após as sessões de domingo .
O casal Breno e Mabel hospeda em sua casa Cadu, amigo de longa data, dando oportunidade para aprofundarem suas relações dúbias de amizade e atração física. Mas a confiança entre eles é quebrada quando o casal descobre que seu filho Thiago foi abusado sexualmente. Todos os indícios apontam para Cadu, disparando um agressivo jogo de manipulação que revela as sombras, melindres e julgamentos das personagens e da criação do filho. Essa é a trama do espetáculo Moléstia , que estará em cartaz entre abril e maio com quatro sessões semanais, de sexta a segunda, no teatro Glaucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, Copacabana), após duas temporadas na cidade no ano passado.
A peça traz no elenco o ator Ciro Sales (apresentador do Catfish Brasil , na MTV, e o Du Love da novela Segundo Sol , na TV Globo) na pele de Cadu, em uma composição que reforça o carisma e a dubiedade do personagem. Camila Moreira (de O tempo e os Conways , dirigida por Vera Fajardo) e Felipe Dutra (de Hanokh , dirigido por Isaac Bernat) dão vida ao casal Mabel e Breno, marcados
por uma relação desgastada e pela demanda de um filho autista. “Pais ausentes, Breno e Mabel,
vivem um relacionamento destrutivo. Cadu é um contraponto à essa relação, pois desperta neles
uma sexualidade adormecida, ao passo que desenvolve com Thiago uma parceria de afeto e
confiança” , diz Ciro Sales. O quarteto se completa com Déborah Figueiredo (de Salém , dirigida por Rodrigo Portella), que faz a Madre Superiora do colégio onde estuda Thiago, onde o abuso foi
identificado.
As relações entre os quatro vão se revelando e se desdobrando a cada cena, que subvertem o eixo temporal: a trama se desenrola em dois tempos, alternando instantes de passado e de presente em uma encenação que coloca a ação muito próxima à plateia, envolvendo o público numa eletrizante experiência de tensão pelo que acaba de ver e curiosidade pelo que está por vir. No espaço cênico, estruturado em semi arena, os atores modificam o cenário, manipulando a cena a fim de gerar novas perspectivas ao espectador. Dessa maneira, o público é convocado a testemunhar não apenas a história contada, mas também a beleza e os ruídos da engrenagem teatral que se desvela no palco.
Moléstia foi o primeiro texto do jovem e promissor dramaturgo Herton Gustavo Gratto a ter uma montagem em cartaz na cidade. Em seguida, outros três textos seus foram encenados, revelando a potência da obra e a proficuidade criativa de Gratto. Para Marcéu Pierrotti, “o ponto chave do texto de Herton Gustavo é a abertura que ele oferece para um jogo de acusações sem provas, a partir de um tema que exige atenção. Todos ali podem ser culpados e suas responsabilidades são desmascaradas ao longo do espetáculo” , revela o jovem diretor. Que, aliás, também estreou com este trabalho a sua primeira direção.
A encenação de Marcéu é enriquecida pelo aprofundamento da pesquisa de imbricação das linguagens cênica e cinematográfica que iniciou durante sua graduação em direção teatral pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ, e que traz pro espetáculo um instigante jogo de captação de imagens e projeção audiovisual em tempo real, através de equipamentos operados
pelos próprios atores em cena. Todo esse aparato desvela para o público novas camadas e pontos
de vista da história – que poderiam ser do personagem ausente, o filho Thiago – e que reforçam a
dramaturgia. “A câmera se oferece para ampliar as evidências, trazendo uma múltipla perspectiva
para a plateia. O público é incitado a criar seu próprio julgamento, escolhendo qual narrativa quer
seguir – tela ou palco – e fazendo a sua própria edição da história” , avalia o diretor.
Por este perfil, a peça estreou a convite da própria UFRJ, em junho de 2018, na ocasião da “Mostra Mais”, com sessões lotadas e a demanda uníssona por uma temporada na cidade, que
aconteceu no Reduto, charmoso casarão em Botafogo inaugurado por Fernando Libonati e Marco
Nanini, com sessões extras todos os dias. O êxito dessa primeira levou a uma nova temporada, em
outubro, no Teatro Glaucio Gill, importante palco da cidade, a convite da Secretaria de Estado de
Cultura/FUNARJ. Novamente, a boa aceitação do público e o interesse de pessoas dos mais diversos extratos sociais levou a equipe realizadora a propor mais uma temporada ao mesmo Teatro Glaucio Gill – que acontece agora, oferecendo ao projeto mais visibilidade e maior acesso ao público.
Nesta terceira temporada, se manterá a ação complementar já realizada em outras oportunidades: encontros semanais com convidados após a sessão para a discussão, com participação da plateia, dos temas abordados pelo espetáculo. Essa atividade é coordenada por Sandra Levy, coordenadora do Núcleo de Depoimento Especial de crianças e adolescentes
(NUDECA) e psicóloga no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Psicologia Clínica pela UERJ e especialista em escuta de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência e abuso sexual, Sandra mediará os debates com a participação de convidados que ela trará a cada semana, para enriquecer a experiência de fruição e potencializar a capacidade de reflexão que este trabalho oferece. Afinal, o teatro pode expandir os seus efeitos e promover necessárias transformações sociais, a partir de sua capacidade de sensibilizar e provocar debates.
Temporada: de sexta a segunda, de 12 de abril a 6 de maio
Local: Teatro Glaucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, Copacabana)
Horário: sextas, sábados e segundas às 21h e domingos às 20h, com bate papo após a sessão
Duração: 50 minutos
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